Rússia corre contra o tempo para certificar o novo jato MC-21

A Irkut, fabricante russa parte do grupo estatal United Aircraft Corporation (UAC), recebeu nesta quinta-feira (29) da Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia a aprovação para grandes alterações no projeto do jato comercial MC-21. As principais mudanças na aeronave estão relacionadas à instalação do motor PD-14 e a asa de material composto, ambos construídos no país, que foram incluídos na versão MC-21-310.

Com as sanções impostas contra a aviação russa devido à guerra na Ucrânia, o MC-21 se tornou a grande esperança do setor aéreo no país. Desde o início do conflito em fevereiro deste ano, as companhias russas estão impedidas de receberem aeronaves de fabricantes do Ocidente, bem como peças de reposição para manter a frota atual em serviço.

“Estamos concentrando forças e recursos significativos no programa MC-21, porque o novo avião se tornará o carro-chefe da frota russa nas próximas décadas. O plano de entrega até 2030 é de mais de 270 aeronaves desse tipo. Os testes aprovados confirmaram a confiabilidade e a alta qualidade do motor PD-14 e da asa composta feita de materiais domésticos. Esta é mais uma confirmação de que, mesmo sob condições difíceis de sanções, nossa indústria de aviação é capaz de resolver as tarefas mais importantes”, disse Sergey Chemezov, CEO da Rostec, controlador da UAC.

A despeito dos embargos, este ano foi um dos mais frutíferos do programa MC-21 iniciado em 2007. Segundo a UAC, as equipes de teste conduziram mais de 160 voos de ensaio com a aeronave em 2022, incluindo o primeiro voo da versão MC-21-310 com o motor PD-14 produzido pela Aviadvigatel. Além disso, recentemente a nova asa de material composto projetada para o jato foi aprovada nas provas de resistência do TsAGI, o instituto de pesquisas hidrodinâmicas de Moscou. Em seguida, uma aeronave experimental com a asa russa completou com êxito uma série de voos.

Alexander Neradko, diretor da Agência Federal de Transporte Aéreo do país, também celebrou o novo avanço no programa do MC-21 com uma dose de ufanismo. “A aprovação das principais mudanças no projeto é mais uma conquista da indústria aeronáutica nacional, incluindo a vitória sobre as sanções. Todas as verificações de teste da aeronave foram realizadas de acordo com os padrões russos e internacionais. A nova aeronave apresentou excelentes características técnicas. O desenvolvedor tem a oportunidade de seguir em frente e tomar todas as medidas necessárias para a rápida introdução do avião em série. As companhias aéreas russas estão interessadas em iniciar suas operações em um futuro próximo.”

Proposto originalmente com uma grande quantidade de componentes importados, incluindo os motores turbofan PW1400G da Pratt & Whitney, a primeira variante da aeronave, o MC-21-300, recebeu a certificação da agência de aviação russa há um ano. Porém, com o início do conflito na Ucrânia e a imposição de sanções, o modelo -300 se tornou inviável. Desta forma, a Irkut passou a focar da versão MC-21-310, que tem como principal diferencial o motor produzido localmente.

Com essa mudança no foco do projeto, a estreia do MC-21, que deveria ocorrer até o fim deste ano, acabou empurrada para 2024, de acordo com o diretor geral da UAC, Yury Slyusar, que reafirmou o compromisso da fabricante em aumentar o nível de nacionalização do projeto. “A aprovação das alterações no motor e na asa nacionais é um marco importante no projeto do MC-21 e a base para a posterior substituição de todos os componentes importados da aeronave. Alguns deles já estão passando por testes de bancada e no próximo ano estaremos prontos para começar a testar esses sistemas para certificar uma aeronave totalmente russa até o final de 2024 e iniciar a produção em massa.”

Com capacidade para até 211 passageiros e autonomia de voo na faixa dos 6.000 km, o MC-21 é a aposta da Rússia para competir no segmento de jatos comerciais de um corredor, onde reinam a dupla Airbus A320 e Boeing 737. No entanto, com os embargos, a introdução da aeronave se tornou um assunto urgente em Moscou, que agora depende do avanço de projetos locais para manter vivo o transporte aéreo no país.