Maior escritório de projetos aeronáuticos da Rússia, o Instituto Aerohidrodinâmico Central (TsAGI) de Moscou agora tem um área dedicada para estudar aeronaves comerciais supersônicas. O novo grupo de pesquisa do TsAGI foi selecionado recentemente pelo governo russo para receber um financiamento de até 15,5 bilhões de rublos (cerca de R$ 1 bilhão) entre 2020 e 2024.
Segundo o instituto russo, o objetivo do centro de pesquisas é estabelecer uma base de conhecimento tecnológico e criar projetos conceituais que gerem baixo “sonic boom”, um avião capaz de voar acima da velocidade do som sem causar as pertubações do estrondo sônico. O grupo também tem a participação do centro de sistemas aeronáuticos GosNIIAS, o centro de teste de voo Gromov e o instituto de motores de aeronaves Baranov.
“No âmbito deste projeto, planejamos solucionar os problemas fundamentais da futura aviação supersônica”, disse o diretor geral do instituto em Moscou, Kirill Sypalo. No passado, o TsAGI teve participação fundamental no desenvolvimento do jato comercial supersônico Tupolev Tu-144, a resposta da antiga União Soviética ao Concorde.
Em entrevista à rede RBC, Anatoliy Serdyukov, supervisor do cluster de aviação da estatal russa Rostec, afirmou que a nova geração de aviões comerciais supersônicos da Rússia será “um produto independente para um novo nicho de mercado”. Segundo o executivo, é mais provável que o modelo supersônico seja um jato executivo do que um avião comercial.
“Em linha com diferentes estimativas, a demanda global por jatos executivos supersônicos pode girar em torno de 400 unidades com valor entre 30 e 50 bilhões de dólares. Portanto, o nicho existe e é substancial”, declarou Serdyukov.
A Tupolev, uma das marcas do grupo UAC (controlado pela Rostec), tem um estudo preliminar em parceria com o TsAGI sobre um avião executivo supersônico de baixo boom sônico. O projeto da icônica fabricante russa é um dos concorrentes para entrar do grupo de pesquisas dedicado do instituto russo.
“Não devemos subestimar a tarefa. Não se trata apenas de construir a próxima aeronave de passageiros. Estamos enfrentando uma série de desafios tecnológicos sérios. Por exemplo, superar confortavelmente o estrondo sônico ou o equilíbrio de calor durante o voo supersônico prolongado, de modo que há novos requisitos para motores, materiais e assim por diante. É uma nova fronteira no desenvolvimento tecnológico de toda a indústria aeroespacial e além”, concluiu o supervisor da Rostec.
O programa de financiamento do instituto prevê a seleção de 10 centros de pesquisa. De acordo com o TsAGI, o estudo sobre o novo avião supersônico aborda áreas de “aeroacústica e vibrações, integridade estrutural e design inteligente, dinâmica de gases, motores, uso de inteligência artificial, segurança de voo e impacto social”.
Nova corrida supersônica
Um esforço que no passado moveu os maiores nomes da indústria aeroespacial, a construção de um novo avião comercial supersônica hoje está nas mãos de empresas desconhecidas, a maioria delas startups nos EUA.
A que chama mais atenção é a Boom Technology, baseada em Denver, no Colorado. A empresa está desenvolvendo o jato comercial supersônico Overture, uma aeronave com capacidade para 55 passageiros e capaz de voar a mais de Mach 2,2 (2.700 km/h) com alcance de 8.300 km. A proposta da startup americana já despertou a atenção de companhias aéreas, como a Japan Airlines e o grupo Virgin.
No entanto, a Boom ainda tem um longo caminho a percorrer com seu projeto até ele alcançar a forma proposta. A empresa vai apresentar no próximo mês o XB-1, protótipo que vai testar as tecnologias do Overture.
Outra startp supersônica é a Aerion Corporation, com em Reno, no estado de Nevada. A proposta da companhia é o jato executivo supersônico AS2, projetado para 11 passageiros e velocidade máxima em torna de Mach 1,4 (1.700 km/h).
Até a NASA está envolvida em pesquisas sobre aviões supersônicos, especialmente para na área de baixo boom supersônico. A agência especial dos EUA deve iniciar no próximo ano os primeiros voos com o protótipo X-58 QUESST (sigla em inglês para Tecnologia Supersônica Silenciosa).
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