O vice-primeiro ministro da Rússia, Yury Borisov, afirmou nesta semana que o país está se afastando do projeto do widebody de passageiros CR929, que é desenvolvido em parceria com a China.
Durante participação em um fórum de engenheiros, Borisov declarou que a Rússia “está trabalhando com a China neste projeto que, em princípio, não está indo na direção que nos convém. A China, à medida que se torna um gigante industrial, está cada vez menos interessada em nossos serviços”.
“Mas os chineses têm mais necessidades do que nós temos hoje. Nossa participação está diminuindo e diminuindo. Não quero prever o futuro deste projeto, se vamos deixá-lo ou não, mas por enquanto este é realmente o caminho”, disse, segundo relato da agência TASS.
A declaração surpreende já que ocorre poucos dias após os dois países afirmarem que o programa CR929 seguia firme, focado na substituição de componentes ocidentais na aeronave por conta das sanções dos EUA, Europa e outros aliados.
O CR929 será um jato de dois corredores com porte semelhante a um Airbus A330 ou Boeing 787. O programa foi criado em 2014 tendo como parceiras a United Aircraft Corporation (UAC) e a COMAC, que formaram a joint venture CRAIC, com sede em Xangai.
Desde então, o projeto sofre reveses. Tempos atrás, a Rússia havia se queixado que o governo chinês pretendia assumir a responsabilidade pelas vendas internas no país, deixando a UAC com a tarefa de encontrar clientes no exterior.
Na divisão de trabalho, a UAC entregará as asas em material composto e a seção central da fuselagem, enquanto a COMAC produzirá o restante das estruturas e empenagem.
Os motores do CR929 não estão definidos, mas a Rússia está mais adiantada no projeto do PD-35, seu maior turbofan. A China tem grandes dificuldades em desenvolver esse tipo de motor, como se nota em outro programa, o C919.
China sozinha em breve?
Segundo relatos recentes, o primeiro CR929 de testes já está sendo montado numa instalação da COMAC no Aeroporto de Xangai. No entanto, um cronograma realista sobre o projeto ainda não existe.
Em busca de soluções para os pesados embargos ocidentais, a Rússia tem replanejado seu investimento em projetos locais, mesmo que antigos como o widebody quadrimotor Il-96.
A possível saída da Rússia no programa talvez não signifique seu fim. A China possui vastos recursos financeiros e pode buscar fornecedores alternativos, a despeito de restrições comerciais dos EUA.
O país asiático, dono do maior mercado de aviação comercial do mundo, pretende ser autossuficiente a médio prazo, daí a certeza que o CR929 deve ser mantido vivo, mesmo que seja renomeado como “C929” num futuro breve.