Consultor sênior de um centro de estudos dos EUA, Scott Kennedy criticou o plano de Washington impor sanções contra a fabricante chinesa COMAC. Na visão do analista, uma medida nesse sentido pode ser mais prejudicial para a indústria aeroespacial dos EUA do que seu alvo pretendido, a China.
Kennedy, que também é o presidente do conselho de administração e economia chinesa no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), afirmou que a possibilidade de restringir ou proibir empresas dos EUA de fornecerem componentes ao programa C919 da COMAC “não atende ao interesse nacional americano”.
“Punir a COMAC com sanções prejudicaria a indústria aeroespacial dos EUA e, em última instância, a segurança nacional americana mais do que prejudicaria a China”, diz Kennedy, em análise publicado no site do CSIS.
No final de novembro, a agência Reuters noticiou que os EUA estavam considerando listar a COMAC, bem como outras 88 empresas chinesas, como sendo associadas aos militares chineses e como “usuários finais militares”, e restringindo-as de comprar produtos e tecnologias de fornecedores americanos.
Em seu relatório, Kennedy diz ainda que impor sanções contra a fabricante chinesa é desnecessário, pois o C919 “não é uma ameaça comercial séria” para o Boeing 737 e o Airbus A320.
Citando que a COMAC “essencialmente recebeu um cheque em branco da liderança superior da China para concluir e entregar o C919”, o analista comentou que as “dificuldades” dos chineses em projetar aeronaves comerciais “não vão terminar tão cedo”.
“A China ainda está lutando para dominar as tecnologias de hoje, ou melhor, de duas décadas atrás”, disse Kennedy, acrescentando que a Boeing e a Airbus enfrentam desafios muito maiores do que a concorrência chinesa, incluindo mudanças nas tecnologias de transporte e fabricação.
O especialista do CSIS também minimizou a importância da indústria aeroespacial, escrevendo: “A COMAC recebeu financiamento estatal maciço e atenção global, mas ela não está na mesma liga que os maiores fabricantes de aeronaves comerciais do mundo, Boeing, Airbus, Embraer e Bombardier. A COMAC nem mesmo é tão capaz quanto suas contrapartes russas de longa data, que têm tecnologia mais avançado, mas ainda têm dificuldades comerciais”.
Ressaltando que o C919 “não é chinês”, devido à natureza multinacional de seus fornecedores, Kennedy afirmou que dos 82 fornecedores do programa C919, mais da metade deles são companhias americanas e apenas 14 empresas chinesas estão envolvidas no projeto.
Entre os fornecedores ocidentais que participam do programa, o mais destacado é a CFM International, uma joint venture entre a francesa Safran e a americana GE Aviation, que fornecem os motores do C919.
Além disso, o analista citou o risco de retaliação do mercado chinês às empresas aeroespaciais dos EUA, caso Washington se posicione a favor das sanções contra a COMAC, “o que seria contraprodutivo”.
“Interromper negócios com a COMAC provavelmente significaria retaliação chinesa contra a Boeing e muitos dos fornecedores americanos da COMAC, o que prejudicaria os resultados financeiros dessas empresas e reduziria sua capacidade de se engajar em pesquisa e desenvolvimento que acabaria prejudicando as forças armadas dos EUA e os parceiros estratégicos da América”, diz Kennedy.
Aplicar sanções contra a COMAC e outras empresas chinesas também “empurraria a China ainda mais no caminho da autossuficiência e fora da hierarquia de tecnologia aeroespacial atualmente liderada pelos EUA e seus aliados”, acrescentou o especialista.
A COMAC, que também produz o jato regional ARJ21, anunciou recentemente que o C919 entrou na fase final de testes de voo, tendo recebido autorização de inspeção de tipo da agência de aviação civil chinesa. Isso significa que a fabricante chinesa “congelou” o design da aeronave e não pode mais efetuar grandes modificações no projeto.
A fabricante chinesa informa em seu site (sem diferenciar pedidos firmes e opções de compra) que tem 815 pedidos de 28 compradores pelo C919, aeronave que pode estrar no mercado chinês até o final de 2021.
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