O próspero mercado de aviação da China, que caminha para se tornar em breve o maior do mundo, parece não dar muita atenção aos produtos da Embraer. A última aeronave entregue pela fabricante brasileira no país foi um E195, recebido pela Tianjin Airlines, em dezembro de 2018. Desde então, a empresa não recebeu novos pedidos de clientes chineses.
A “seca” da Embraer na China, que já dura quase cinco anos, pode começar a mudar neste ano. É esperado que executivos da fabricante de São José dos Campos (SP) acompanhem a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em viagem ao país na próxima semana, para tentar fechar novos acordos com empresas chinesas.
Contatada pelo AIRWAY desde a semana passada, a Embraer ainda não respondeu se enviará representantes para acompanhar o encontro de Lula com o presidente chinês, Xi Jinping, e outras autoridades do país, que é o maior parceiro comercial do Brasil.
70 E-Jets na China
A situação atual contrasta com o passado recente, quando a Embraer e a Harbin Aircraft Industry Group (subsidiária da Aviation Industry Corporation – AVIC) estabeleceram uma joint venture a partir de 2003 para montar localmente o ERJ 145, jato regional de 50 assentos, e sua versão executiva, o Legacy.
A parceria durou até 2016, com mais de 45 aeronaves produzidas na fábrica de Harbin. Segundo o Flight Global, na época, a fabricante brasileira tentou convencer os chineses a substituir o ERJ 145 pelo E190, mas sem sucesso.
Apesar disso, a Embraer conseguiu alguns contratos de venda no país e tem atualmente quatro clientes na China que operam quase 70 E-Jets da primeira geração. O maior desses operadores é a Tianjin Airlines, com 24 jatos E190 e 18 E195 na frota, segundo dados reunidos pelo Airfleets. Os outros, de acordo com a mesma fonte, são a GX Airlines (12 E190), Colorful Guizhou Airlines (oito E190) e a Habei Airlines (6 E190).
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Com uma extensão territorial tão grande como a dos Estados Unidos, onde os jatos regionais da Embraer compõem a paisagem dos aeroportos, a China também tem um agitado mercado de aviação regional. A empresas chinesas que atuam nesse setor, porém, nos últimos anos têm preferido comprar o avião da casa, o COMAC ARJ21-700.
Desde que a Embraer enviou o último E195 à Tianjin, no fim de 2018, a COMAC entregou um total de 94 exemplares do ARJ21 a companhias aéreas da China. Ainda nesse período, teve até empresa que retirou os aviões brasileiros de serviço e encomendou o chinês, casos da Urumqi Air e China Southern Airlines.
Ou seja, a necessidade para jatos regionais no mercado chinês existe. Em 2021, a Embraer estimou uma demanda mundial por 5.500 jatos de até 150 assentos num intervalo de 10 anos. Um terço desse volume viria de pedidos de empresas aéreas da Ásia e em grande parte da China.
Talvez o avião da Embraer mais apropriado para o mercado chinês, dado a preferência das empresas locais pelo E190, o novo E190-E2 já pode atuar por companhias aéreas da China. Em novembro do ano passado, o jato brasileiro de segunda geração obteve o certificado de aeronavegabilidade da autoridade de aviação civil chinesa (CAAC, na sigla em inglês). Na época, a fabricante informou que também trabalhava na homologação do E195-E2 com a CAAC.
Com um programa ambicioso de produção de aeronaves comerciais locais, a China tem prolongado a homologação de aviões ocidentais. O rival da Embraer, o Airbus A220, por exemplo, até o momento não foi certificado no país, embora esteja em serviço em outras partes do mundo desde 2016. Ao menos essa barreira o E190-E2 já superou. Faltam agora os pedidos.