Há meio século ocorria um dos momentos mais importantes da indústria aeronáutica no Brasil, a entrega do primeiro turboélice EMB 110 Bandeirante, da Embraer.
Foi em 9 de fevereiro de 1973 que a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu o primeiro exemplar do modelo, após anos sendo desenvolvido pela equipe de Ozires Silva para substituir antigos aviões a pistão.
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A ironia é que 50 anos depois, a FAB encontra-se hoje operando o mesmo Bandeirante, já perto do limite de vida útil, e sem um sucessor nacional.
Em vez disso, a Aeronáutica expressou o desejo de encomendar aeronaves Cessna SkyCourier, um bimotor versátil desenvolvido pela norte-americana Textron Aviation.
Curiosamente, o panorama do setor aeroespacial no Brasil é bem diferente do que vigorava na década de 60 quando Ozires e seus colegas tiveram que usar a criatividade e uma boa dose de improviso para tirar o projeto IPD/PAR 6504 do papel.
Embora existissem iniciativas bastante importantes na indústria aeronáutica brasileira na época, não havia uma aeronave capaz de substituir aviões como o C-47, o C-46 ou C-45, entre outros.
Em 1965, o Centro Técnico Aeroespacial deu vida ao projeto que se transformou no YC-95, cujo primeiro voo ocorreu em 22 de outubro de 1968, não por acaso o Dia do Aviador.
Em 1969, com a criação da Embraer, os dois protótipos YC-95 foram repassados à empresa que os batizou como EMB 100. A experiência de voo inicial apontou a necessidade de vários aprimoramentos no projeto original, o que deu origem ao EMB 110 como o conhecemos e que estreou na FAB há 50 anos como C-95.
Teremos um substituto nacional para o Bandeirante?
Essa é a grande questão atualmente sem uma resposta clara. Apesar de ser uma fabricante hoje mais diversificada e capaz, a Embraer tem focado em outros segmentos, como o de jatos comerciais, executivos e também em aeronaves de maior porte como o C-390 Millennium.
Não que a empresa, prestes a completar 30 anos de sua privatização, tenha esquecido do assunto. Em 2021, em parceria com a mesma Aeronáutica que a concebeu, a Embraer anunciou o projeto STOUT (acrônimo para Short Take Off Utility Transport, ou Transporte Utilitário de Decolagem Curta).
A ideia é desenvolver uma aeronave de asa alta e propulsão híbrida-elétrica que poderá ter diversos usos, tanto no segmento militar como civil. A parceria com a FAB, no entanto, foi desfeita sob o pretexto de corte de custos, mas a Embraer garantiu que o STOUT está “suspenso” e não encerrado.
Outra esperança no ar é o ATL-100, projeto desenvolvido pela Desaer, uma fabricante formada por ex-funcionários da Embraer. A aeronave também exibe uma configuração com asa alta e cauda em T, mas com propulsão convencional por dois motores turboélices – embora exista uma proposta híbrida planejada.
A empresa, porém, carece de recursos financeiros por enquanto, e tem se esforçado para estabelecer uma linha de montagem na cidade de Araxá, em Minas Gerais, com apoio do governo estadual.
Certamente, alguns dos cerca de 500 Bandeirantes fabricados até 1990 estarão voando por anos a fio, demonstrando a capacidade da engenharia aeronáutica brasileira. Espera-se, no entanto, que até o aniversário de 60 anos de operação tenhamos um sucessor digno da história do EMB 110.