O conflito entre Rússia e Ucrânia tem se tornado palco de novas táticas de combate, sobretudo pelo uso extensivo de drones. A primeira “estrela” foi a Aeronave Não Tripulada (UAV em inglês) Bayraktar TB2, produzida pela então pouco conhecida Baykar, da Turquia.
Com seu baixo custo e versatilidade, o TB2 executou várias missões cruciais da Força Aérea da Ucrânia que causaram muitas perdas para a Rússia. Ficou claro desde então que os pesados e caros caças e aviões de ataque Su-35 e Su-34, entre outros, não seriam tão efetivos quanto os pequenos drones e seus motores a hélices.
Desde setembro, foi a vez da Rússia experimentar algum sucesso com drones. Surpreendentemente, tratam-se de projetos do Irã, fabricados pela empresa HESA, mas que teriam sido desenvolvidos pela Shahed Aviation Industries.
A informação sobre o então suposto envio de aeronaves não tripuladas iranianas para a Rússia surgiu em julho após os Estados Unidos revelarem que os dois países haviam acertado um acordo para fornecimento de centenas desses aparelhos.
Mas em vez dos drones mais avançados da Shahed, como o 149 Gaza, semelhante ao MQ-9 Reaper, ou o 171 Simorgh, uma asa voadora com motor a jato, o que a Rússia tem usado nas últimas semanas é o pequeno Shahed 136.
Trata-se, como amplamente divulgado pela mídia, de uma aeronave “kamikaze”, ou seja descartável. Com apenas 3,5 metros de comprimento e 2,5 metros de envergadura, o drone não tem capacidade de decolar de uma pista. Em vez disso, é lançado de uma plataforma com até cinco aeronaves que pode ser transportada por caminhões.
Embora use um pequeno motor a pistão, que teria sido clonado de um modelo alemão, o Shahed 136 utiliza um dispositivo por foguete para ganhar velocidade após ser lançado e que é dispensado em seguida.
Comparado ao TB2, o drone iraniano é consideravelmente mais leve, levando uma ogiva de cerca de 40 kg em seu nariz. No entanto, o alcance seria muito grande, apontado como de até 2.500 km pelo Irã, algo que analistas do Ocidente duvidam.
Ainda assim, por ser um veículo aéreo de missão única, sua autonomia pode ser grande, diferentemente do Bayraktar, que retorna da missão e opera em pistas ou estradas.
Preço baixo, efeito limitado
Embora seu efeito seja relativamente limitado, o Shahed 136 pode ser lançado em grandes quantidades, sobrecarregando os sistemas de defesa. Seu custo também é considerado extremamente baixo, de apenas US$ 20 mil. O TB2, que é uma aeronave bastante acessível, pode custar entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões enquanto um MQ-9 Reaper, dos EUA, não sai por menos de US$ 14 milhões.
A Ucrânia afirma que tem destruído a maior parte dos Shahed 136 lançado em seu território, mas tem sido impossível derrubar todos, cujos principais alvos têm sido áreas urbanas e instalações elétricas. O país também deverá contar com “drones kamikazes” fornecidos pelos EUA, o Switchblade.
Até mesmo minúsculos drones comerciais como o DJI Mavic estão sendo adaptados para levar pequenas bombas. Na semana passada, foi relatado inclusive um ‘combate aéreo’ entre modelos civis.
Em oito meses desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em sua “operação militar especial”, o uso de drones tornou-se tão comum que praticamente redesenhou as estratégias militares. Com custo/benefício atraente, essas aeronaves evitam baixas de pilotos altamente treinados e difíceis de serem repostos. Podem não ter um grande impacto isolado, mas o baixo custo torna possível ataques massivos.
No entanto, por conta da tecnologia limitada, podem ser neutralizados com certa rapidez, exigindo novas táticas e equipamentos. O próprio TB2, tão efetivo nos primeiros meses de guerra, deixou de ser uma grande ameaça assim que suas características de voo foram compreendidas. É o que deverá ocorrer em breve com o Shahed 136.
Modelo | Shahed 136 | Bayraktar TB2 |
---|---|---|
Fabricante | HESA | Baykar |
Comprimento | 3,5 m | 6,5 m |
Envergadura | 2,5 m | 12 m |
Peso máximo de decolagem | 200 kg* | 650 kg |
Velocidade | 185 km/h | 130 km/h |
Alcane | 2.500 km* | 150 km |
Motor | 50 hp | 110 hp |
Carga paga | 40 kg | 140 kg |
Decolagem | Por plataforma e assistida por foguete | Pista convencional |
Preço | US$ 20.000 | US$ 1 milhão |