Comandante da Aeronáutica, o Tenente-Brigadeiro do Ar Antonio Carlos Moretti Bermudez pegou muita gente de surpresa na última sexta-feira (13) ao revelar os primeiros detalhes do “Embraer STOUT”, uma aeronave multimissão conceitual de uso militar e com motorização híbrida.
Apresentado durante o Seminário de Defesa Nacional, em Brasília (DF), o estudo é primeiro passo de um projeto que pode originar um avião utilitário leve e reforçar as capacidades da Força Aérea Brasileira (FAB), além de incorporar novidades tecnológicas.
No seminário, o Comandante Bermudez apontou o STOUT como um substituto para os veteranos turboélices Embraer Bandeirante e Brasília, aviões que devem ser desativados pela FAB até a década de 2030. O oficial ainda destacou as capacidades sugeridas para a aeronave e a importância de meios aéreos desse tipo para operar da região amazônica.
“O novo vetor levará em consideração diversas necessidades operacionais, como transporte de carga e pessoal em áreas de selva, lançamento de paraquedistas, extração de paletes e transporte de enfermos”, disse o Comandante da Aeronáutica na apresentação.
O nome do conceito é autoexplicativo: STOUT é uma sigla em inglês para “Short Take Off Utility Transport” (Transporte Utilitário de Decolagem Curta), uma aeronave pensada para operar em pistas curtas e semipreparadas, condições típicas de locais remotos e com pouca estrutura – como a região amazônica.
Segundo os dados preliminares divulgados pelo Comandante Bermudez, a aeronave projetada com asa alta e quatro motores (dois turboélices e dois motores elétrico) tem porte semelhante ao do Brasilia, comporta três toneladas de carga ou 30 soldados (ou 24 paraquedistas) e tem alcance de 2.425 km.
Como a apresentação do conceito foi uma iniciativa da Aeronáutica, a Embraer ainda não divulgou maiores detalhes sobre o conceito. “Trata-se do resultado de um estudo desenvolvido pela Embraer, junto à Força Aérea Brasileira, aliando a excelência técnica da empresa e a experiência operacional de diversos pilotos de transporte da FAB, nos termos estabelecidos no Memorando de Entendimento (MoU), assinado em dezembro de 2019, cujo objetivo foi a concepção de uma nova aeronave leve de transporte militar que atenda as demandas das Forças Armadas brasileiras.”
Diversificando o portfólio
Apesar das poucas palavras sobre o STOUT, executivos da fabricante brasileira já deixaram algumas pistas pelo caminho sobre um projeto desse tipo em entrevistas recentes.
Vice-presidente de marketing da Embraer Aviação Comercial, Rodrigo Silva Souza disse no mês passado que sistemas de motorização híbrida ainda não são viáveis para um avião de 100 lugares, como o turboélice de última geração que está nos planos da companhia, mas que a tecnologia poderia ser aproveitada em aeronaves menores para cerca de 50 ocupantes.
Naturalmente, a exemplo do Bandeirante e o Brasília, a proposta do Embraer STOUT pode se adequar aos mercados civil e militar. Em um país como um Brasil, uma aeronave como essa seria bem vinda no setor de aviação regional ao oferecer custos operacionais menores, em grande parte devido a economia de combustível proporcionada pelo sistema de propulsão híbrido-elétrico.
Desafio tecnológico
Sistemas de motorização alternativa e ambientalmente sustentáveis vão ditar os rumos da indústria aeronáutica pelos próximos anos. Na Europa, a Airbus já fala em desenvolver uma linha de aeronaves impulsionadas por hidrogênio, enquanto outras empresas menores já estão testando aviões convencionais convertidos com motores híbridos e elétricos para aplicação comercial.
A Embraer também já tem um avião elétrico, mas ele ainda não voou e ainda não tem uma data para decolar. A empresa construiu uma aeronave experimental com motor elétrico baseado no avião agrícola Ipanema. Os aprendizados obtidos com esse protótipo podem abrir o caminho para a fabricante ganhar experiência na “eletrificação da aviação” e avançar em projetos mais complexos, como é o STOUT – e o “táxi voador” Eve, que terá motores elétricos.
O conceito apresentado pela FAB também é um das primeiras propostas de avião militar com motorização híbrida. No entanto, até o STOUT virar realidade serão necessários vários anos (provavelmente mais de uma década) de desenvolvimento e testes, considerando que o projeto realmente avance.
A Embraer já detém a maior parte do conhecimento industrial para construir uma aeronave com os requisitos do STOUT. De certa forma, o projeto parece combinar a praticidade da dupla Bandeirante-Brasília com a robustez do C-390 Millennium, um avião militar multimissão no estado da arte. Muda apenas o tamanho do pacote e o sistema de motorização híbrida, uma tecnologia que a fabricante brasileira ainda vai aprender a dominar.
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