Aeronave comercial mais afetada pela crise do coronavírus, o Airbus A380 deve enfrentar mais um ano difícil em sua curta carreira. Com a demanda de passageiros arrasada nos últimos meses e prevendo mais resultados negativos em 2021, a maioria dos operadores do “superjumbo” estacionou seus aparelhos por tempo indeterminado, enquanto outros estocaram parte de suas frotas ou desativou todos os aparelhos, como fez a Air France.
Sem um horizonte claro no mercado em 2021, o destino mais provável do maior avião de passageiros do mundo é virar sucata. Na última semana, o perfil no Twitter Air Plus News publicou a imagem do primeiro A380 desativado pela Air France e em estágio avançado de desmantelamento. O jato está sendo desmontado há quase um ano no Aeroporto de West-Knock, na Irlanda, onde pousou em 20 fevereiro de 2020.
O modelo com número de série 040 foi o primeiro dos 10 A380 desativados pela Air France, que primeiramente planejava uma redução da frota e posteriormente, com o avanço da pandemia, optou por retirar completamente o avião de serviço.
A primeira aeronave do tipo desativada pela Air France era alugada pela empresa de leasing alemã Dr. Peters, que também gerenciava outros quatro A380 da empresa francesa – os demais eram propriedade da Air France e hoje estão estocados.
Segundo a contagem mais recente do Planespotters, dos 251 modelos A380 entregues até o ano passado, atualmente apenas 23 deles estão ativos em voos comerciais: 18 com a Emirates Airlines, quatro com a China Southern Airlines e um com a All Nippon Airways. A página ainda indica que outras 201 aeronaves estão estacionadas e 22 armazenadas. A lista também inclui dois modelos preservados pela Airbus e três unidades desmontadas (ou em processo de desmonte).
Os dois primeiros A380 desmontados voaram a serviço da Singapore Airlines, alugados pela Dr. Peters. As aeronaves com pouco mais de 10 anos de uso foram desativadas pela empresa bem antes da pandemia, no final de 2018, evidenciando o quão complicado e caro já era operar o avião gigante da Airbus. Um terceiro modelo aposentado pela empresa asiática (e que também é propriedade da Dr. Peters) será desmantelado no mesmo local no decorrer deste ano.
Sem novos interessados em assumir os A380 aposentados pela Singapore, a empresa de leasing enviou os aviões para a reciclagem, realizada pela Tarmac Aerospace, no aeroporto de Tarbes/Lourdes, na França, iniciando um processo que deve marcar os próximos anos do maior avião comercial da Airbus.
Elefante branco
Quando anunciou o programa A3XX, ainda no começo dos anos 1990, a Airbus tinha grandes expectativas para a aeronave que depois ganharia o nome A380. A fabricante recebeu 1.200 pedidos pelo jato que aparecia como o substituto definitivo para o Boeing 747, que dominava a aviação de grande porte desde a década de 1970.
O projeto, porém, era extremamente complexo e atrasou. Ao mesmo tempo em que o avião recebia modificações, o mercado de aviação comercial passava por transformações. Enquanto a Airbus desenvolvia o maior avião de passageiros do mundo, as companhias aéreas estavam abandonando esse tipo de aeronave e optando por modelos menores, mais eficientes e que podiam percorrer maiores distâncias, como os atuais Boeing 787 e Airbus A350.
Quando o A380 chegou ao mercado já era tarde demais. E caro demais: o custo da hora de voo é estimado em US$ 30 mil (R$ 154,2 mil na cotação atual). Dos 1.200 pedidos, apenas 256 foram concretizados, com 251 aeronaves entregues até o final de 2020. Os cinco últimos aviões na fila de montagem foram encomendados pela Emirates Airline, o maior operador da aeronave com 117 exemplares e provavelmente o último reduto do maior avião comercial do mundo.
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