Sukhoi T-4, o bombardeiro soviético futurista

Projetado para atingir Mach 3, protótipo de bombardeiro dos anos 70 foi um dos primeiros aviões a utilizar fly-by-wire e lembrava outro avião espetacular, o North American XB-70 Valkyrie
O Sukhoi T-4: tecnologia nunca antes vista na União Soviética

No dia 22 de agosto de 1972 voava pela primeira vez um dos aviões mais avançados já desenvolvidos na União Soviética.

Com uma imensa asa delta, quatro turbojatos instalados na parte inferior e uma fuselagem cujo nariz utilizava um sistema semelhante ao do Concorde, o Sukhoi T-4 era uma proposta para um bombardeiro e avião de reconhecimento capaz de voar a Mach 3.

A aparência do jato, que utilizava estabilizadores horizontais ‘canard’, lembrava outra aeronave com características únicas, o North American XB-70 Valkyrie, da Força Aérea dos EUA, que havia realizado seu último voo em fevereiro de 1969.

Ao contrário do jato norte-americano, o T-4, ou “Projeto 100”, era bem menor. Possuía quatro motores em vez de seis turbojatos, comprimento de 44 metros (56 m no XB-70) e envergadura de 22 metros (32 metros no Valkyrie). Seu peso máximo de decolagem era de 135 toneladas, comparadas às quase 246 toneladas do avião da USAF.

O T-4 seguia um conceito bastante parecido com o Valkyrie, mas era bem menor

Mas os dois aviões tinham muito em comum, além do fato de os russos terem se inspirado no programa dos EUA, como era comum na época. Ambos ambicionavam atingir uma velocidade de Mach 3 e tinham como funcões primárias o bombardeio nuclear e missões de reconhecimento.

Mas o jato russo era um vetor de mísseis enquanto o XB-70 surgiu numa época em que ainda se utilizavam bombas atômicas convencionais.

Motivado pelo XB-70 Valkyrie

O programa que deu origem ao T-4 foi iniciado justamente no mesmo ano em que o governo dos EUA cancelou o XB-70 (que seguiu como aeronave de pesquisa da NASA nos anos seguintes).

O impulso para o surgimento do avião russo foi dado justamente pelo bombardeiro da North American. Dessa iniciativa surgiram o caça MiG-25 ‘Foxbat’, um interceptador Mach 3 desenhado para abater o XB-70 e o SR-71, e o ‘Projeto 100’.

Surpreendentemente, a tarefa coube à Sukhoi, um bureau de projetos voltado para caças e aviões de ataque, e que foi escolhido numa disputa com as mais experientes Yakovlev e a Tupolev.

O T-4 seria uma resposta apropriada ao desempenho frustrante do Tupolev Tu-22 Blinder, que era capaz de voar a apenas Mach 1.42 e tinha uma autonomia pequena, além de vários problemas.

Os requerimentos, no entanto, eram muito avançados para o conhecimento técnico da Rússia à época. Por conta disso, a Sukhoi precisou estudar vários conceitos novos, o que gerou cerca de 600 patentes locais.

A aeronave da Sukhoi foi a primeira a utilizar uma fuselagem construída em titânio na Rússia, uma liga que os EUA aplicou ao avião-espião SR-71 Blackbird. O T-4 também introduziu o sistema fly-by-wire no país, com quatro canais, um sistema de combustível com bombas a turbina e uma curiosa configuração com nariz móvel que escondia o para-brisa em voo supersônico.

O protótipo do T-4 com o nariz abaixado (Alan Wilson)

Por conta disso, o T-4 decolava e pousava de forma semelhante ao Concorde, com o para-brisa à mostra, mas que era ocultado quando nariz estava na posição superior, deixando os dois tripulantes apenas com janelas laterais e um periscópio que podia ser usado em baixa velocidades.

Os quatro motores do T-4 eram os mesmos que mais tarde foram utilizados no jato de passageiros supersônico Tu-144, os Kolesov RD36 com 157kN de empuxo cada.

O armamento desenhado para o Sukhoi eram os mísseis Kh-45, com alcance estimado em 600 km e velocidade de cruzeiro de Mach 6.

Primeiro voo

Os desafios tecnológicos foram superados pela Sukhoi, mas custaram ao bureau muito tempo. Apenas no final de 1971 o primeiro protótipo (registro 101) foi concluído.

Em 22 de agosto de 1972, o piloto Vladimir Ilyushin (filho do projetista Sergei Ilyushin) e o navegador Nikolai Alfyorov decolaram com o Sukhoi T-4 para um voo em que atingiram Mach 1.2.

Exceto pelo aquecimento acima do esperado na parte traseira da aeonave, o voo transcorreu sem problemas.

Seu desenvolvimento ajudou a modernizar a produção de aviões no mundo (USAF)
O americano XB-70: inspiração para o Sukhoi T-4 (USAF)

Ao contrário do XB-70, o programa do T-4 parecia que iria entrar em produção. A Sukhoi construiu um protótipo estático (100) e outra aeronave que participaria do programa de ensaios em voo (102). Além deles, outros dois aviões estavam sendo montados em 1974 quando os trabalhos foram suspensos.

Oficialmente, o governo soviético pôs fim ao programa em dezembro de 1975 com 10 voos realizados pelo primeiro protótipo, nenhum deles chegando a atingir a velocidade planejada – o máximo conseguido foi Mach 1.36.

Lições para o Tu-160

À essa altura, a Força Aérea da União Soviética havia decidido reprojetar o ‘Blinder’ no que se tornou o Tu-22M ‘Backfire’, um bombardeiro bastante superior, capaz de voar próximo de Mach 2.

Apesar de frustrante, o cancelamento do “Projeto 100” não foi em vão. O aprendizado obtido com os estudos de voo a alta velocidade, materiais e sistemas como o FBW se tornam úteis para outros programas.

O T-4 no Museu de Monino: aprendizados de grande valor (Alan Wilson)

O bombardeiro Tu-160 ‘Blackjack’, com suas imensas asas de geometria variável e projeto parecido com o B-1 dos EUA, se beneficiou dos avanços trazidos pelo T-4. Curiosamente, a Sukhoi participou da concorrência com uma versão modificada do jato, equipado com asas de configuração semelhante ao Tupolev.

Repetindo a história do XB-70 Valkyrie, que está exposto no Museu da USAF em Wright-Patterson, o protótipo 101 do Sukhoi T-4 também faz parte do acervo histórico da Rússia. A aeronave é uma das atrações do Museu Central da Força Aérea, em Monino, próximo à Moscou, ao lado de outros bombardeiros famosos do país.

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  1. Resultado de espionagem e de roubo de tecnologia junto com muito dinheiro público em prol de defesa hipotética em guerra que nunca ocorreu e creio não ocorrerá…

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