Era muito comum no passado que aviões militares ganhassem apelidos únicos com uma boa dose de senso de humor e quase sempre acompanhados de desenhos caricatos. A Força Aérea Brasileira (FAB) não fugia dessa tradição e por muitos anos batizou suas aeronaves com nomes inusitados, alguns deles considerados impensáveis e dignos de punições nos dias atuais.
Esse foi o caso de um antigo North American B-25J Mitchell da frota brasileira. Originalmente um bombardeiro leve, a aeronave foi convertida pela FAB para atuar como avião de transporte, recebendo a designação CB-25J. A transformação incluía a retirada de blindagens, torres de armas de auto-defesa, entre outros componentes desnecessários para a nova função.
Com esse alívio de peso substancial, o CB-25J se transformava em uma aeronave com desempenho soberbo, alcançando velocidades mais elevadas e maior economia de combustível que outros modelos semelhantes.
Um desse aviões, o FAB-5097, modificado no então Parque de Aeronáutica de Recife (PARF), apresentou uma performance tão elevada que acabou apelidado como “Super Maconha”, já que ele havia substituído o antigo “Maconha” (FAB-5031), outro bombardeiro B-25 também modificado como avião de transporte. O nome, no entanto, era o menor dos problemas desse avião…
O livro “Bombardeiros Bimotores da FAB”, de Aparecido Camazano Alamino, conta um pouco da história da curiosa aeronave. Segundo o autor, o 5097 sofreu um grave acidente no final dos anos 1950, que resultou em sua desativação. Todavia, o pessoal do PARF não se conformou em dar baixa na aeronave e logo obtiveram autorização para recuperá-lo, apesar de ele estar muito danificado. Em seis meses, o avião ficou pronto, mas em seguida a equipe deparou-se com um problema grave: não havia tinta para pintar o avião com as cores padrão da FAB.
Sem as tintas corretas para pintar a aeronave, o diretor do PARF, solucionou o problema a sua maneira e determinou que o Super Maconha teria uma “pintura comemorativa”. Desta forma, o avião foi pintado de azul, amarelo, verde, branco e preto, as mesmas cores da bandeira brasileira.
Além do nome controverso, a aeronave em questão também trazia a figura do “Amigo da Onça”, personagem de uma antiga história em quadrinhos de tom satírico que era publicada pela revista “O Cruzeiro“.
“Tendo em vista que ele ressurgiu das cinzas (como a Phoenix) e como era bem mais veloz, eles resolveram homenageá-lo, dando-lhe o nome de Super Maconha, pois ele, apesar de tudo, havia sobrevivido e estava novamente colocado no inventário da FAB”, explicou Camazano, em contato com o Airway.
Multicolorido, o Super Maconha obviamente chamava muita atenção por onde passava. Em sua primeira viagem ao Rio de Janeiro, a aeronave estacionou no Aeroporto do Galeão, bem próximo ao Quartel-General da então 3ª Zona Aérea, onde não foi bem recebido.
Ao ficar sabendo sobre a chegada do avião com pintura especial, o Major-Brigadeiro comandante da base foi conferir o aparelho. Lá chegando, ficou muito irritado com o que viu e mandou prender os tripulantes da aeronave, como relembra o livro de Camazano.
Depois de um tempo, mais calmo, o comandante procurou saber o motivo de tal extravagância e foi informado sobre a falta das tintas corretas no PARF para pintar o avião corretamente. Imediatamente, ele soltou os tripulantes, fez os contatos necessários e ordenou que a aeronave fosse repintada com as cores padrões da FAB. O apelido Super Maconha, porém, foi mantido sem problemas.
B-25 na FAB
O Brasil recebeu seus primeiros bombardeiros B-25 Mitchell durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1942 e 1944. O primeiro lote, com um total de 30 unidades (das versões B, C, D e J), foram adquiridas por meio da Lei de Empréstido e Arrendamento (Lend-Lease) promovido pelos EUA para equipar forças aliadas durante o conflito.
O B-25 foi o primeiro avião da FAB a entrar em combate durante a Segunda Guerra Mundial, atacando submarinos alemães e italianos na costa brasileira. A primeira missão desse tipo realizada pela força aérea aconteceu em 22 de maio de 1942, no ataque a um U-Boot nazista.
Ainda durante os anos no conflito, a FAB recebeu mais 21 B-25J, entre agosto e novembro de 1944, e no pós-guerra, entre 1946 e 1947, foram incorporados mais 64 aeronaves, também da versão J. Esses bombardeiros, bem como os modelos recebidos durante a guerra, foram utilizadas até 1970, sendo empregadas em variadas funções, como reconhecimento fotográfico (designados como RB-25) e transporte (CB-25).
Veja mais: O homem que reinventou o avião no Brasil
Sinto muita saudade dessa aeronave, pois servi no PARAER no período de 1965 até 1986.j
Sr. José. Que OM é esta , PARAER?
Hoje teríamos um outro nome pra uma avião que serve ao planalto. Super Pó
Pois é Miguelito, alguns anos antes o avião que serve ao Planalto deveria ter se chamado SUPERTRANCA, porque dos três ex-presidentes um está na CADEIA, e os outros estarão logo lá, não demora muito!