Que Pete “Maverick” Mitchell era um piloto audaz e capaz de manobras inesperadas em combate aéreo contra os MiG-28 soviéticos (na realidade jatos T-38), isso não há quem não saiba, quase 35 anos após o filme Top Gun ter chegado aos cinemas do mundo inteiro. Mas o personagem interpretado pelo ator Tom Cruise está de volta: a continuação da história, batizada de Top Gun: Maverick, ganhou novo trailer e data de estreia, em junho de 2020.
Tanto tempo passou entre os dois filmes que o mundo não é mais o mesmo. Não há mais ameaça da União Soviética, que desmoronou em 1991, mas os russos continuam a ser uma força militar importante enquanto a China aos poucos ocupa o espaço deixado pela tradicional parceira. Se na década de 80 os combates aéreos ocasionais envolveram nações árabes hoje são os terroristas a maior preocupação do Ocidente.
Mas é fato que a Marinha do EUA continua a ser uma força impressionante graças aos seus super porta-aviões nucleares, incluindo a nova classe Gerald Ford, cujo segundo navio, o John F. Kennedy, acaba de ser batizado. Já o destacamento aéreo desses navios-aeródromos mudou bastante em três décadas. Quando Maverick voava com seu companheiro “Goose” a função de ataque cabia ao Vought A-7 Corsair II e também ao estranho A-6 Intruder, da Grumman, assim como sua versão de guerra eletrônica EA-6B Prowler era um item obrigatório no inventário.
A grande novidade, no entanto, é que o glorioso F-14 Tomcat, caça interceptador utilizado como estrela máxima no filme (claro, junto de Tom Cruise), já não está mais em serviço nos EUA. Há 13 anos, ele foi aposentado pela US Navy que atualmente utiliza o F/A-18E/F Super Hornet como principal caça de combate e até avião de contra-medidas eletrônicas, tornando o convés menos parecido com um “espaçoporto de Star Wars” como antes. Ou seja, Maverick, seja lá o que está fazendo tanto tempo depois, já não pode fazer uso de suas peculiares jogadas aéreas como a famosa abertura das asas de geometria variável para “driblar” seu oponente. Ou será que pode?
Pois bem, no novo trailer disponibilizado pela Paramount nesta semana, o ator aparece em situações semelhantes às do primeiro Top Gun. Pilota sua moto esportiva Kawasaki (ainda) sem capacete e a toda velocidade, chega à entrada da base da Marinha em San Diego (onde admira um F-14 num pedestal) e, sim, repete a tal manobra com seu novo F-18(!).
Maverick também parece dar sequência à carreira de instrutor de “dog-fights” dando “lições práticas” inusitadas em seus jovens alunos que, como no filme original, estão lá sentados suando às bicas e voando sempre com o pôr do Sol ao fundo.
A grande pergunta sobre o roteiro é saber por que Maverick voltou a ser escolhido pelos seus superiores para entrar em ação. Há, é claro, alguma missão em que só suas habilidades incomuns podem servir e não sem antes encontrar um par romântico (a atriz Jennifer Connely já que Kelly McGillis nem foi cogitada), presenciar um acidente com um dos pilotos e participar de mais um funeral (terá sido a morte de seu rival Iceman?).
Ah, sim, para resgatar mais histórias do passado, o filho de Goose, o tenente Bradley “Rooster” Bradshaw (interpretado pelo ator Milles Teller com direito ao bigodinho usado pelo “pai” Anthony Edwards), é um dos seus alunos – quem não se lembra do garotinho no colo da então desconhecida Meg Ryan?
Vale dizer que a presença feminina ganhou mais espaço e equidade, com pilotos mulheres e direito a participar até do clássico joguinho de vôlei, quer dizer, futebol americano, no céu dourado das areias de San Diego (ou algo parecido).
Missão secreta
Se no primeiro trailer Cruise aparece vestido em um traje semelhante ao usado pelos pilotos do SR-71, avião espião da Força Aérea, o que já indicava algo inesperado, no novo trailer o ator surge decolando com um misterioso avião negro com formas pseudo-stealth no que parece ser a estação aeronaval de China Lake, “vizinha” de Edwards, da USAF, no deserto californiano. Estaria Maverick envolvido com o desenvolvimento de algum jato hipersônico secreto? Parece um tanto entendiante para o inquieto piloto…
Outras cenas, entretanto, trazem o que se espera de Top Gun: Maverick: ação de tirar o fôlego, agora ajudadas pela computação gráfica em vez de modelos em escala no primeiro filme. Mais abusado do que quando era um jovem de 23 anos, Tom Cruise certamente andou decolando de porta-aviões de verdade para dar mais veracidade à produção – nada complicado para ele, que é piloto na vida real.
Ao que tudo indica, o clímax do filme deve ocorrer em uma região de montanhas nevadas, onde um F/A-18E descarrega sua carga de “chaff and flare” tentando despistar um inimigo que não aparece na imagem.
Curiosamente, no início do trailer, eis que o F-14 Tomcat irrompe pela tela sobre os picos, em uma imagem gerada por computador. Qual será o papel do antigo caça da Northrop Grumman? Não importa, afinal Top Gun não tornou-se uma das maiores bilheterias de 1986 por conta de seu roteiro ou da carga dramática de suas interpretações. Só o que se espera é que seja divertido e tão impactante em suas cenas aéreas como há 33 anos.
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