O Ministério da Defesa da Ucrânia anunciou nesta terça-feira (29) a assinatura de memorando com a fabricante local Antonov para adquirir aeronaves An-178 para as forças armadas do país.
O contrato de compra ainda não foi assinado, mas de acordo com o comunicado do ministério ucraniano, as autoridades e a Antonov estão “se preparando para assiná-lo”. O pedido inicial é de três aeronaves – não foi divulgado para quais instituições os aviões serão destinados.
“Estas novas aeronaves serão construídas por cidadãos ucranianos, a partir de componentes ucranianos, para os interesses ucranianos. É assim que deve ser”, disse o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, na cerimônia de assinatura do memorando na fábrica da Antonov, em Kiev.
De acordo com o site da fabricante ucraniana, o An-178 tem alcance de 3.680 km com uma carga de 10 toneladas (e máxima de 18 toneladas). Multimissão, o bimotor pode ser utilizado para transportar tropas, armas e veículos militares leves, bem como realizar operações de resgate e evacuação aeromédica. O novo avião da Antonov também pode lançar paraquedistas e equipamentos em voo.
Embora a negociação ainda esteja em andamento, está é a primeira vez que o governo ucraniano assina um memorando de compra de aeronaves da Antonov desde que o país se tornou independente. A Ucrânia foi uma república da antiga União Soviética de 1922 até 1991. Nesse meio tempo, a Antonov Design Bureau foi criada em 1946.
Passados quase 30 anos da independência da Ucrânia, o país ainda mantém um importante inventário de equipamentos militares fabricados nos tempos do regime soviético. A força aérea ucraniana, por exemplo, opera caças MiG-29 e Su-27, além de antigos cargueiros Ilyushin Il-76 e Antonov An-26, herdados da União Soviética.
Da Ucrânia para o mundo
Em discurso da fábrica da Antonov, o presidente ucraniano afirmou que recebeu consultas de chefes de estado de outras nações sobre o An-178, mas que era questionado sobre o avião não ser operado pelas forças armadas do país.
“Eles sempre me perguntam se esses aviões seriam adotados na Ucrânia. É por isso que essa medida (a compra dos An-178) é duplamente importante. Ela fortalece as capacidades de defesa da Ucrânia e ajuda a atrair investimentos ucranianos e estrangeiros”, frisou Volodymyr Zelenskyy.
Até o momento, o único cliente com pedido firme pelo An-178 é o governo do Peru, que encomendou uma aeronave em 2019 para a frota da polícia nacional.
Zelenskyy disse ainda que no futuro mais pedidos governamentais “devem se tornar não uma comoção, mas uma prática normal”, indicando que pode autorizar a compra de mais produtos da Antonov.
“Vamos fazer todo o possível para que a indústria de aviação da Ucrânia supere todas as zonas de turbulência e alcance novos patamares”, acrescentou o presidente.
Concorrente do Embraer C-390 Millennium
O Antonov An-178 e o Embraer C-390 Millennium são aviões com propósitos e desempenho semelhantes, servindo principalmente para missões de transporte logístico. O modelo brasileiro ainda tem capacidade para reabastecer outras aeronaves em voo, recurso que ainda não foi proposto ao avião ucraniano. Em comum, ambos são alternativas mais avançadas aos veteranos turboélices C-130 Hercules da Lockheed Martin.
Os dois aviões apresentam dimensões praticamente idênticas: o An-178 tem 33 metros de comprimento, contra 33,9 m do C-390; 30,57 m de envergadura, contra 35 m do Millennium; e 9,5 m de altura, ante 11,8 m do avião brasileiro brasileiro. O modelo da Embraer, no entanto, tem uma importante vantagem na capacidade de carga máxima: 26 toneladas contra 18 ton do Antonov.
Continuando a comparação, o An-178 pode voar a altitude máxima de 12.200 metros, enquanto o limite do C-390 é 11.000 m. O avião ucraniano transporta mais soldados (90 contra 80) e paraquedistas (70 contra 64) que o rival brasileiro. Por outro lado, o Millennium é mais veloz (alcança velocidade máxima de 870 km/h contra 825 km/h do An-178) e tem alcance superior com carga máxima comparado ao modelo da Antonov (2.560 km com 23 ton contra cerca de 1.000 km com 18 ton).
Diferentemente do cargueiro da Embraer, um projeto 100% original, o novo avião militar da Antonov é uma versão militarizada do jato regional An-158, lançado no final da última década. O valor do novo avião ucraniano é estimado entre US$ 40 milhões e US$ 70 milhões, enquanto um C-390 tem custo unitário em torno de US$ 85 milhões.
Já empregado na Força Aérea Brasileira e encomendado por Portugal e Hungria, o KC-390 está num estágio de desenvolvimento mais avançado em relação ao Antonov. Apesar disso, nenhum deles ainda é uma opção de “prateleira”, aviões que tiveram todas as suas capacidades comprovadas.
Tanto o C-390 como o An-178 ainda precisam obter o certificado operacional final, uma espécie de “atestado militar” que comprova os atributos do avião de acordo com os requisitos do projeto. É um processo normalmente iniciado pelo operador de lançamento com suporte do fabricante. A conclusão bem-sucedida da certificação e a experiência positiva dos primeiros clientes pode colocar o produto numa posição de destaque, algo que a Embraer e a Antonov estão em busca com suas aeronaves militares de última geração.
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