O grupo estatal ucraniano UkrOboronProm, controlador da fabricante aeronáutica Antonov, está à procura de investidores estrangeiros para concluir a construção de um segundo exemplar do gigante AN-225 “Mriya”, que espera por este momento há quase 30 anos, de acordo com o diretor-geral da empresa, Yuriy Husyev.
Em entrevista à TV Dom, o diretor da estatal afirmou que “a conclusão do segundo Mriya ou a implementação de projetos individuais é sempre uma questão de clientes. Aqueles que estão interessados em nossos produtos em mercados estrangeiros, cujos parceiros internacionais estão prontos para implementar projetos em conjunto conosco”.
Husev ainda acrescentou que a estatal tem “conversas ativas com vários países sobre o desenvolvimento da frota de aeronaves ucranianas”, mas não especificou se essas negociações envolvem a finalização do segundo AN-225.
O programa Mriya previa a construção de duas aeronaves superpesadas. No entanto, a montagem do segundo aparelho foi interrompida em 1994 devido à falta de financiamento. O projeto foi reativado brevemente em 2009, mas logo foi paralisado novamente. Segundo a Antonov, cerca de 70% da aeronave foi concluída. Desde então, a célula incompleta está armazenada na sede da fabricante ucraniana, em Kiev.
CEO da Antonov não quer um segundo AN-225
A declaração recente do diretor da UkrOboronProm vai no caminho oposto do que pensa o CEO da Antonov, Oleksander Donets. No ano passado, ele afirmou que era “inviável” concluir o segundo AN-225 e acrescentou que seria necessário redesenhar inteiramente o avião inacabado para adaptá-lo às condições e padrões atuais.
“De acordo com estimativas feitas em 2012, quando nossas relações com a Rússia eram boas (os custos para finalizar o segundo An-225) chegaram a quase US$ 460 milhões (mais de R$ 2,5 bilhões) levando em consideração as especificações antigas com as quais foram construídas”, disse o CEO da Antonov na época, em entrevista ao jornal ucraniano Kyiv Post.
Continuando seu banho de água em fria em quem esperava ver o segundo AN-225 concluído, Donets disse que o valor investido para finalizar a aeronave jamais seria recuperado. O custo para contratar o avião gigante gira em torno de US$ 1 milhão. Normalmente, a aeronave opera em média 20 voos por ano. Mesmo que a demanda pela aeronave tenha aumentado durante a crise da Covid-19, sua clientela ainda é bastante limitada.
“O An-225 foi projetado especificamente para transportar o Buran (antigo ônibus espacial do programa espacial soviético), não para cargas humanitárias. Isso era algo que União Soviética podia pagar”, comentou o CEO da Antonov no ano passado. “Mais importante, quase 35% dos aeroportos (do mundo) não podem fornecer espaço para pouso (do An-225). Por causa de suas dimensões e envergadura, não se encaixaria nas faixas pista. Não recuperaremos os custos.”
Ao longo dos anos, a Antonov afirmou em diferentes ocasiões que estaria pronta para concluir a construção da aeronave caso recebesse um investimento maciço. Em 2016, a AVIC da China estava supostamente interessada em participar do projeto, mas posteriormente perdeu o interesse devido ao custo extremamente alto. A Turquia também tem interesse na aeronave, mas nunca formalizou um plano.
O primeiro e único Mriya funcional é usado pela Antonov Airlines, a transportadora aérea ucraniana controlada pela fabricante estatal de aeronaves, para frete comercial. A vida útil do An-225 deve se estender até meados de 2030.
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