Um passeio pela estratosfera no Legacy 500

Jato executivo da Embraer está entre os aviões mais avançados do mundo na atualidade
O Legacy 500 pode voar acima dos jatos comerciais, a 45.000 pés de altitude (Thiago Vinholes)
O Legacy 500 pode voar acima dos jatos comerciais, a 45.000 pés de altitude (Thiago Vinholes)
O Legacy 500 pode voar acima dos jatos comerciais, a 45.000 pés de altitude (Thiago Vinholes)
O Legacy 500 pode voar acima dos jatos comerciais, a 45.000 pés de altitude (Thiago Vinholes)

A 45.000 pés de altitude, ou 13.700 metros, é possível enxergar a curvatura do planeta Terra e o início do espaço. Essa faixa é o começo da estratosfera, território que só é alcançado por aeronaves militares, como caças supersônicos e aviões de espionagem, ou jatos de passageiros de altíssima performance, como é o caso do modelo executivo Embraer Legacy 500, avião que o Airway voou a convite da fabricante.

O jato brasileiro faz parte do seleto grupo dos aviões civis mais modernos da atualidade, equipados com comandos de voo “full fly-by-wire”. Em vez de cabos e mecanismos hidráulicos, as superfícies de controle dessas aeronaves são acionadas por atuadores elétricos, o que permite automatizar e controlar por computador todos os seus movimentos em voo e torna as viagens mais seguras e confortáveis.

O primeiro avião civil com essa tecnologia foi o Boeing 787, em operação comercial desde 2011. Os outros modelos de última geração com esse sistema de voo são o Airbus A350 e os jatos executivos Gulfstream G650 e o Dassault Falcon 8X, além dos modelos Legacy 450 e 500 – o próximo avião a entrar nesse grupo será a nova geração do Embraer E190-E2, com controles atualizados para o padrão mais avançado.

“O Legacy 500 é como uma mistura de Cadillac com carro de Fórmula 1. Reúne muito conforto com uma performance excepcional e alta tecnologia”, brincou Sydney Rodrigues, piloto e instrutor da Embraer, que comandante do voo de demonstração entre a base da empresa, em São José dos Campos, e São Paulo.

Hora do voar

O Legacy 500 de demonstração da Embraer tem a cabine configurada para transportar nove passageiros. São seis assentos individuais e um sofá para três ocupantes, que a empresa chama de “divã”. Além disso, a aeronave ainda conta com toalete e uma pequena galley com forno elétrico e geladeira, sem falar na decoração impecável.

O Legacy 500 tem o mesmo nível tecnológico dos jatos comerciais Boeing 787 e Airbus A350 (Thiago Vinholes)
O Legacy 500 tem o mesmo nível tecnológico dos jatos Boeing 787 e Airbus A350 (Thiago Vinholes)

O voo entre São José dos Campos e São Paulo a bordo de um jato desse tipo pode ser realizada em meros 15 minutos, mas para demonstrar as capacidades da aeronave a Embraer realizou um “voo de performance” com uma hora de duração, semelhante ao que é oferecido a potencial clientes.

Nesse tipo de voo a decolagem é de tirar o fôlego. Com os freios do trem de pouso travados, o piloto acelera os motores até a potência máxima e quando os solta o avião dispara pela pista como um dragster. A força de aceleração empurra o corpo com força contra o assento e a subida é pra lá de radical, e o Legacy 500 decola em ângulo acentuado, como um foguete.

“Esse desempenho permite ao Legacy 500 operar em pistas pequenas, um detalhe que, dependendo das necessidades do cliente, pode ser crucial na definição da compra”, explicou Thiago Bernini, gerente de produtos da Embraer especializado na linha Legacy. Segundo dados da fabricante, o modelo precisa de 1.245 metros de pista para decolar e 647 m para o pouso.

Acelerando em potência máxima, o Legacy 500 alcança em poucos minutos a faixa dos 45.000 pés de altitude, ficando bem acima dos jatos comerciais, que normalmente voam a 35.000 pés (10.000 m). Além de otimizar o desempenho da aeronave, permitindo alcançar altas velocidades com menor consumo de combustível (o Legacy 500 pode voar a 1.024 km/h), esse espaço aéreo também tem menos tráfego, o que ajuda a reduzir o tempo das viagens.

A combinação de dois assentos reclinados forma uma cama (Thiago Vinholes)
Sono estratosférico: a combinação de dois assentos reclinados forma uma cama (Thiago Vinholes)

Diferentemente de aviões comerciais, onde o ruído dos motores é perceptível a todo momento, no Legacy 500 impera o silêncio, mesmo com os propulsores em plena força. O isolamento acústico na cabine é tanto que é possível conversar tranquilamente a bordo (ou até cochichar) sem precisar elevar o tom de voz.

Outra parte interessante de voar no jato da Embraer é o conforto proporcionado pela ótima pressurização da cabine. “O ambiente a bordo desse avião é semelhante ao ar de Campos do Jordão, mesmo voando a 45.000 pés”, explicou Bernini. Em outras palavras, é mais fácil respirar no Legacy 500, ao contrário de jatos comerciais, que em longos voos ressecam as vias respiratórias.

Apesar de pequeno comparado a um jato comercial – o Legacy 500 tem 20,7 metros de comprimento e decola com peso máximo de 17.000 kg -, o modelo executivo da Embraer pode realizar voos entre continentes. A autonomia da aeronave é de 5.380 km, o suficiente para voar para qualquer país da América do Sul com folga, a partir de São Paulo, ou então alcançar a Europa ou os Estados Unidos com apenas uma escala.

o Legacy 500 é equipado com dois motores Honeywell HTF7500E; cada um gera 5.000 libras de empuxo (Thiago Vinholes)
o Legacy 500 é equipado com dois motores Honeywell; cada um gera 5.000 libras de empuxo (Thiago Vinholes)

Os comandos fly-by-wire também tornam o voo do Legacy 500 mais confortável. Sem necessidade de atuação dos pilotos, os controles computadorizados regulam automaticamente os parâmetros da aeronave, realizando correções a todo momentos. Durante nosso passeio, realizado pela área de testes da Embraer no litoral de São Paulo, a avião permaneceu perfeitamente estável até o pouso “manteiga” no aeroporto de Congonhas.

Mudança no jogo

O programa de desenvolvimento do Legacy 500 foi iniciado em 2008 e o primeiro protótipo voou em 2012. Dois anos depois, a aeronave finalizada chegou ao mercado e passou a ditar as regras do segmento. Já o Legacy 450, versão para sete passageiros e alcance de 5.380 km, foi introduzido em 2015.

“O Legacy 500 é o único jato executivo da categoria midsize com alto grau de tecnologia, com recursos encontrados somente em aviões comerciais de longo curso de última geração, como o Boeing 787 e o Airbus A350. Isso fez toda a indústria da aviação executiva se movimentar para oferecer algo parecido”, contou o gerente de produto da Embraer.

O Legacy 500 é montado nas fábricas da Embraer em São José dos Campos e também em Melbourne, nos EUA (Thiago Vinholes)
O Legacy 500 é montado nas fábricas da Embraer em SJC e também em Melbourne, nos EUA (Thiago Vinholes)

Em pouco mais de três anos no mercado, a Embraer já entregou mais de 50 unidades do Legacy 500, sendo sete deles no Brasil. A clientela da aeronave é variada, distribuída entre empresas de táxi aéreo de alto padrão e usuários particulares: o cliente mais famoso do jato é o ator chinês Jackie Chan, que também possui um Legacy 650.

O Legacy 500, hoje o avião brasileiro mais avançado em operação, é avaliado em US$ 20 milhões e tem um custo operacional de US$ 2.418 por hora de voo (ou US$ 5,75 por milha percorrida), valor considerado baixo nesse segmento, que busca agilidade e muito conforto. São qualidade que o jato executivo da Embraer tem de sobra, o que é motivo de orgulho para a indústria aeronáutica nacional e de agitação no mercado internacional.

Nota do editor: Interessados no Legacy 500, ou curiosos, podem conferir a aeronave de perto e por dentro na feira Labace, que acontece nesta semana no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

Veja mais: Da abóbora ao Legacy 650

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