O que falta para a Embraer lançar uma versão civil da aeronave multimissão KC-390 Millennium? Em entrevista ao AIRWAY, Bosco da Costa Junior, CEO da divisão Embraer Defesa e Segurança, indicou que a empresa, antes de desenvolver e fabricar uma variante desse tipo, precisa ter quem pague pelo projeto, ao menos em sua concepção inicial.
Uma fabricante de aviões não é como uma marca de automóveis, que consegue projetar e lançar diferentes versões de um mesmo produto a um custo razoável. O avião é uma máquina muito mais complexa e cada unidade pode ser produzida com uma lista de requisitos diferentes. E isso custa caro, pois é necessário desenvolver e certificar arduamente cada versão. Se não houver interessados, não há motivo para fazê-lo – embora exista quem faça isso, como falaremos mais adiante.
Segundo Bosco, a ideia de criar uma versão civil do KC-390 sempre existiu na Embraer, “desde o início da concepção do projeto”.
Esse tema é abordado pelo mercado e a imprensa desde o rollout da aeronave, em outubro de 2014. Diretor do Programa KC-390 da Embraer na época, Paulo Gastão Silva comentou em entrevista coletiva durante a apresentação que a aeronave poderia “atender nichos específicos de transporte de cargas civis especializadas como na indústria de óleo e gás, mineração, logística pesada com alta concentração de peso específico, etc”.
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Ainda naquela ocasião, Gastão acrescentou: “não vemos o KC-390 como competidor de aeronaves comerciais retiradas de linha e convertidas em cargueiros dotados de portas laterais, resultando numa solução de preço bem atraente para empresas de entregas expressas e para as operadoras de cargas mais comuns, que trabalham com baixo volume e peso concentrados. Ademais, estamos nesse momento focados em entregar o avião tal como contratado pela Força Aérea Brasileira.”
Passados quase 10 anos da apresentação do Millennium, a posição da Embraer sobre um KC-390 civil continua a mesma, como mencionou o CEO da Embraer Defesa e Segurança. “O avião foi concebido com requisitos da Força Aérea Brasileira, mas sempre olhando a penetração no mercado. A versão civil do KC-390 sempre foi uma opção pensada. O avião é capaz de fazer isso (operar comercialmente).”
Porém, voltando ao fato de aviões serem caros, Bosco deixou claro que a Embraer somente seguirá adiante com um projeto desse tipo se houver um comprador. “A Embraer sempre esteve e está aberta ao lançamento da versão civil, mas obviamente que só faremos isso quando tivermos um cliente lançador”, disse o executivo, acrescentando que a fabricante mantém “conversas com algumas empresas privadas e outras entidades”.
O que um KC-390 pode fazer no mercado civil?
Imaginando que a Embraer conduza o projeto do KC-390 civil, o que esse avião poderia oferecer ao mercado? Antes de ir ao trabalho, primeiramente ele precisaria mudar de nome – KC é um indicativo militar das capacidades da aeronave, que pode realizar reabastecimento aéreo (caracterizado pela letra K) e servir como avião de transporte (C). Portanto, uma alcunha adequada, seguindo a nomenclatura dos aviões comerciais da fabricante, poderia ser, quem sabe, “E390”.
Devidamente batizado para funções não militares, o suposto E390, com sua grande capacidade de carga (até 26 toneladas na versão militar), poderia servir como avião cargueiro. Mas não um cargueiro qualquer, e sim um transportador de cargas complexas e pesadas, que exigem embarque por portas maiores, de preferência com uma rampa própria, o que também garantiria sua operação em aeroportos com pouca infraestrutura. O que mais?
Na América do Norte é comum que empresas privadas prestem serviços de combate a incêndios florestais com aeronaves de diferentes portes especialmente adaptadas para essa função. E apagar chamas em regiões de mata é um das diversas funções do KC-390 da Força Aérea Brasileira, que recentemente conquistou o Certificado de Capacidade Operacional Total.
No ramo de logística, o E390 também poderia ser bem recebido. Com grande capacidade de carga, além da possibilidade de operar em pistas precárias, o KC-390 civil poderia fazer a ponte de correspondência de grandes centros urbanos com locais remotos ou até inóspitos, como a Antártica. Não à toa, os Correios cogitaram comprar o avião da Embraer, em 2011.
A empresa estatal planejava a criação de uma companhia aérea de logística, a CorreiosLog, que teria uma frota de 15 aeronaves. Esse plano, porém, não foi adiante, assim como as que poderiam ser as primeiras encomendas do KC-390 civil.
Concorrente do KC-390 civil já existe, mas ninguém comprou
Gigante da indústria de defesa dos Estados Unidos, a Lockheed Martin é um caso diferente da Embraer. A empresa norte-americana, ao contrário da brasileira, teve cacife para bancar o projeto completo de uma versão comercial do C-130J Super Hercules, a versão mais moderna do Hercules – e o principal concorrente do Embraer KC-390.
Chamado LM-100J, o Hercules civil já está na segunda geração. O primeiro modelo, o LM-100, foi lançado em 1964 e continuou em produção até 1992, acumulando 114 unidades entregues – dos quais cerca de 30 exemplares continuam em serviço. Em 2014, a Lockheed Martin decidiu reformular o produto baseado na versão militar mais avançada do Hercules e com fuselagem estendida, o C-130J-30.
Apresentado em fevereiro de 2017, o LM-100J logo completou seu primeiro voo, em 26 de maio daquele ano. Em poucos meses, voou o segundo protótipo da aeronave, que depois seria apresentado em shows aéreos pelo mundo, como no Farnborough International Airshow de 2018, onde o Hercules comercial fez até acrobacias radicais. No fim 2019, o avião já estava certificado pelo FAA, a autoridade de aviação civil dos EUA.
Porém, apesar de todo o trabalho (e dinheiro gasto) da Lockheed Martin com testes de voo, apresentações acrobáticas e o processo de certificação civil completo, até o momento ninguém comprou o LM-100J. Com o KC-390 civil seria diferente?
Ficou bem bonito essa pintura para os correios 👏🏻👏🏻👏🏻
Se o mercado for receptivo as chances do E 390 serão maiores que o 130!
Diferente das empresas publicas, as empresas particulares só compram o que precisam.
O Mercado Livre tá que aumenta sua frota. Poderia ser um cliente.
A maior vantagem do 390 em relação ao 130 está na velocidade de cruzeiro, que é muito maior possibilitando entregas mais rápidas, no mercado civil tempo é dinheiro e quanto mais rápido melhor!!!
No caso do C390 o tipo de carga que atenderia um potencial usuário seria rústica, grande e pesada. Tipo fabricante de motores a jato P&W, GE, Rolls Royce. Indústria do petróleo com pontos na selva fechada, etc. Para cargas leve, a conversão a partir de versões civis são mais econômicas.
O que faz avião voar não é aerodinâmica é dinheiro.
A vantagem seria na manutenção. O possível E390 tem 2 motores contra 4 do LM100-J.