Virgin Atlantic não irá voar mais entre Londres e São Paulo

Alegando situação causada pela pandemia do coronavírus, companhia aérea britânica decidiu cancelar voo diário com o Boeing 787-9
A Virgin pretendia voar diariamente entre Londres e São Paulo (Tomás Del Coro)
A Virgin pretendia voar diariamente entre Londres e São Paulo (Tomás Del Coro)

O plano de oferecer um serviço diferenciado e ampliar a competição na rota Brasil-Reino Unido ficaram nisso, apenas em promessas. A Virgin Atlantic, companhia aérea fundada pelo chamativo bilionário Richard Branson, anunciou nesta sexta-feira, 17, que cancelou em definitivo o voo entre São Paulo e Londres que deveria ter estreado em 29 de março. A decisão foi tomada por conta da crise causada pela pandemia do coronavírus, que tem colocado a aviação comercial num beco sem saída, com custos crescentes e queda brutal no faturamento diante de tantos cancelamentos.

Segundo comunicado enviado aos sites de trading, a Virgin lamentou o fato afirmando que “cancelar uma rota nunca é uma decisão fácil, e gostaríamos de agradecer aos nossos clientes, nossos parceiros comerciais e de mídia e, acima de tudo, nossa equipe em São Paulo por trabalhar tanto para nos apoiar nos últimos meses. São Paulo é uma cidade fantástica e estamos extremamente desapontados por não estarmos mais lançando o voo neste momento”.

A Virgin Atlantic havia anunciado seu primeiro voo regular na América do Sul em março de 2019. A escolha da capital paulista foi, segundo a empresa, “uma oportunidade incrível para os negócios, e estamos muito animados para voar para um novo continente pela primeira vez”. Embora nas primeiras semanas, os voos estivessem programados para apenas alguns dias, a meta era manter uma frequência diária entre Guarulhos e Heathrow.

Em novembro do ano passado, o espalhafatoso CEO da empresa esteve em São Paulo e em entrevista ao jornal O Globo prometeu mexer com o mercado brasileiro: “Tenho certeza que só com o fato de haver mais competição nesta rota, com mais poltronas disponíveis, os preços vão cair. O que a Virgin quer é quebrar esse duopólio”, disse ao se referir ao domínio da Latam e da British Airways, sua arquirrival e com quem vive trocando picuinhas.

No entanto, logo que os reflexos da pandemia começaram a atingir a Europa no mês passado, a companhia aérea resolveu postergar o início do voo para 5 de outubro. Desde então, a situação só se agravou a ponto de a Virgin pleitear uma injeção de 500 milhões de libras, algo como R$ 3,3 bilhões, do governo britânico para salvar a companhia. Branson alega que investiu 250 milhões de libras do próprio bolso para mantê-la viva.

Davi contra Golias

No Reino Unido, entretanto, o ar é de ceticismo. Segundo analistas, a Virgin tem pesadas dívidas e uma situação financeira delicada sobretudo por ter uma frota de aviões toda ela arrendada. Para piorar o quadro, o grupo IAG, dono da British Airways e da Iberia, se recusou a receber a ajuda financeira do governo, jogando ainda mais o peso do pedido de Branson ser algo inviável.

Com apenas 42 jatos, todos eles widebodies, a Virgin Atlantic é uma anã comparada à British Airways, com suas mais de 270 aeronaves. Branson culpa a concorrente de monopolizar os slots do Heathrow, o maior aeroporto da Europa, e tenta convencer a opinião pública a permitir que o terminal seja expandido e ganhe outra pista, a fim de ampliar sua presença em Londres, mas a proposta não é muito popular entre a população.

Nessa luta entre Davi e Golias, parece que o primeiro carece de pedras em sua atiradeira.

Branson vestido de piloto quando inaugurou sua companhia aérea e recentemente: muito barulho por nada (Virgin)

Veja também: Virgin Orbit realiza último testes antes de lançamento de foguete

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