Um dos acidentes mais famosos da história da aviação completa 20 anos neste sábado (25). Trata-se da queda do supersônico Concorde da Air France logo após a decolagem do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris (França). A queda deixou 113 mortos, sendo quatro pessoas que estavam em solo. Foi o único acidente fatal com o mítico Concorde.
O voo 4590 entre Paris e Nova York tinha previsão de durar cerca de três horas. Naquele 25 de julho de 2000, no entanto, o supersônico se manteve no ar por pouco mais de um minuto. Durante a corrida de decolagem, um dos motores pegou fogo. Como não havia mais pista suficiente para os pilotos abortarem a decolagem, o Concorde saiu do chão com um rastro de fogo na parte traseira.
Os controladores de tráfego aéreo da torre do Charles de Gaulle chegaram a avisar os pilotos sobre o fogo na asa esquerda do Concorde. Ainda houve tempo de os pilotos reportarem uma falha no motor 2 e que tentariam conduzir o Concorde para um pouso de emergência no aeroporto de Le Bourget, distante pouco mais de dez quilômetros da pista do Charles de Gaulle.
Não houve tempo para isso, e o Concorde caiu em um campo de milho e trigo na comuna de Gonesse, nos arredores de Paris, atingindo ainda um restaurante à beira da rodovia N17.
As imagens do Concorde decolando em chamas chocaram o mundo. Antes mesmo do início das investigações, a Air France e a British Airways, únicas companhias que operavam o modelo, decidiram suspender preventivamente todas as operações com seus aviões supersônicos. Uma das primeiras especulações apontava para uma possível falha no reversor do motor 2, que havia sido trocado pouco antes da decolagem. A suspeita não se confirmou.
DC-10 causou a queda
Apesar de a segurança do Concorde ter sido colocado em dúvida, as investigações do acidente mostraram que a queda não fora causada por nenhuma falha do supersônico. O responsável era um DC-10 da companhia aérea norte-americana Continental que havia decolado minutos antes do Concorde da Air France entrar na pista.
Durante a corrida de decolagem do DC-10, uma peça de titânio, com 40 cm de comprimento e 3 cm de largura se soltou de um dos motores do avião da Continental. Quando o Concorde se preparava para a decolagem, um dos pneus passou por cima da peça metálica que havia ficado na pista.
O pneu estourou e partes de borracha foram arremessadas contra os motores do avião da Air France. O choque causou uma perfuração nos tanques de combustível que ficam à frente do motor, causando a explosão e o fogo.
Volta aos voos durou apenas dois anos
Para voltar a voar, a frota de Concorde da Air France e da British Airways recebeu novos e reforçados pneus, além de tanques de combustíveis mais resistentes a impactos. O Concorde ficou mais de um ano parado. Após as mudanças para aumentar a segurança, o supersônico voltou a operar voos comerciais em novembro de 2001.
Naquele momento, no entanto, a aviação vivia uma grave crise mundial por conta dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Para piorar, o preço do petróleo estava nas alturas. Os custos elevadíssimos de operação do Concorde tornavam sua operação cada vez mais inviável, até o que o avião foi aposentado em novembro de 2003.
Continental chegou a ser condenada
Uma década após o acidente do Concorde em Paris, a companhia aérea Continental, cujo DC-10 havia deixado a peça de titânio na pista do Charles de Gaulle, chegou a ser condenada pela Justiça francesa.
A empresa recebeu um multa de 200 mil euros e foi condenada a arcar com 70% de qualquer indenização às famílias das vítimas do acidente. O grupo aeroespacial europeu EADS ficaria responsável pelos demais 30%. A Continental teria ainda de pagar à Air France uma indenização de um milhão de euros por prejuízos causados.
Além disso, um mecânico da empresa, responsável pela manutenção do DC-10, foi condenado a 15 meses de prisão em regime de liberdade condicional.
A decisão, no entanto, foi revertida dois anos depois. Uma corte de apelações francesa absolveu a Continental por responsabilidade no acidente e também absolveu o mecânico da companhia aérea americana da acusação de homicídio involuntário.
Supersônico soviético caiu antes, duas vezes
Único rival do Concorde no mercado de viagens supersônicas, o Tupolev Tu-144 fabricado na antiga União Soviética teve uma carreira de números impressionantes, mas que foi encerrada em pouco tempo.
No Paris Air Show, em 3 de junho de 1973, o primeiro Tu-144 de produção caiu enquanto fazia um voo de demonstração para o público. Os seis tripulantes do avião e mais oito pessoas em solo morreram no acidente.
O jato fazia uma repetição da exibição do dia anterior, mas em vez de pousar como esperado, a aeronave fez uma subida muito íngreme e em seguida um comando abrupto para baixo. A manobra brusca quebrou a fuselagem do avião, que caiu em chamas sobre 15 casas nos arredores do aeroporto de Le Bourget.
Mais adiante, em 23 de maio de 1978, um Tu-144 realizava um voo de teste antes de ser entregue à Aeroflot. Quando voava na faixa dos 3.000 metros de altitude, um incêndio começou na APU (Unidade de Energia Auxiliar) localizada na asa direira. Enquanto tentava voltar para o aeroporto, a aeronave perdeu os dois motores da asa direita e perdeu altura rapidamente. O fogo invadiu o cockpit e dois turbojatos restantes falharam momentos antes do aterrar em chamas sobre um campo perto em Yegoryevsk, próximo de Moscou. Dois tripulantes do avião morreram.
Sem conseguir alcançar o prestígio do Concorde, o jato supersônico da URSS teve uma breve carreira na aviação comercial. A aeronave voou com a Aeroflot entre 1975 e 1979. Algumas unidades ainda ficaram disponíveis até 1983 em voos comerciais restritos e para o governo da antiga União Soviética.
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